
Acompanhamos atônitos esse debate agressivo e injustificável relacionado ao reinício das atividades do futebol aqui no Rio de Janeiro. E é sobre isso que trato, pressionado por todas as inseguranças que nos cercam em meio a essa terrível pademina.
Até hoje, dia 26.05.20, temos 376.669 casos oficialmente confirmados de COVID-19, com 23.522 mortes confirmadas. No Rio de Janeiro as mortes crescem e seguem lamentavelmente puxando o gráfico para cima. Hoje são 37.912 casos confirmados e 3.993 mortes, em números crescentes.
Enquanto isso, em meio a esse cenário desolador, aqui no Rio de Janeiro, a Federação, apoiada por Vasco e Flamengo, decide reiniciar as atividades esportivas no estado.
Ao que parece, no caso do futebol carioca, os sucessivos erros cometidos por nosso país relacionados à pandemia, que se descolou das melhores práticas humanitárias e científicas adotadas majoritariamente pelo mundo afora, serão mais uma vez cometidos.
Em nome do que quer que seja, é profundamente temerário iniciar qualquer atividade esportiva ligada ao futebol nesse momento e qualquer decisão nesse sentido deve obedecer a critérios racionais e baseados nas recomendações dos órgãos de saúde internacionais e constituídos e apoiados pelas melhores práticas adotadas pelo mundo afora.
O futebol na Alemanha por exemplo. A Bundesliga já voltou às atividades e está em evidência por isso. Mas por lá, ao contrário do que tudo indica por aqui, providências em série demonstram os cuidados que cercam o caminho que seguiram. Primeiro, a pandemia já está obviamente sendo controlada, basta observarmos os gráficos de lá. E, além disso, todos os jogadores das duas primeiras divisões germânicas foram testados, passando por 3 baterias de exames para o COVID-19. O resultado é que apenas 10 deles testaram positivo e foram imediatamente isolados.
Para consolidar esses protocolos expressos de cuidados, além de várias medidas, como naturalmente portões fechados e distanciamento, todos os atletas que testaram negativo foram confinados por uma semana em quartos individuais de hotéis antes do recomeço da temporada.
Espanha, Portugal e Itália, países que estão em uma óbvia etapa posterior relacionada ao ciclo da pandemia, ainda não cravaram o retorno dos seus campeonatos e estudam retornar as atividades agora em junho.
Apenas como mais um exemplo de procedimento a ser avaliado como referência, a Inglaterra, ainda não sugeriu data de recomeço da poderosa Premier League e dentro da dinâmica local de construção das melhores condições para a retomada das atividades do futebol local, foi criado o “Projeto Recomeçar”
Uma bateria de testes realizados pela Liga local testou 996 pessoas, identificando apelas 8 infectados, animando as autoridades locais a refletirem com mais otimismo sobre a retomada.
Por aqui, percebe-se uma pressão atabalhoada pelo reinício. Como que inspirada nas sucessões de desacertos e falta de critérios com que nosso país vem majoritariamente enfrentando a pandemia, Flamengo, Vasco e FERJ se uniram em torno de uma causa, que ao indicar a retomada das atividades, se traveste como providência positiva. Mas, baseado na lógica, nas orientações científicas e referências de boas práticas internacionais, indicam um caminho no mínimo muito perigoso e profundamente desumano.
*Marcelo Guimarães é sócio da Vértice Marketing. Formado em Administração (UFRJ), com especialização em Marketing (FGV) e Marketing Digital pela Escola de Comunicação e Design Digital do Instituto Infnet. Concebeu e coordenou, a primeira edição do Curso de Extensão em Marketing Esportivo da UFRJ e lecionou na Trevisan Escola de Negócios. É autor do livro “Paixão SA, como anda o marketing do seu clube do coração? e co autor do “100 crônicas comentadas de João Saldanha”